sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Estudo do Fenómeno da Comunicação

Estudo do Fenómeno da Comunicação
Perspectiva Histórica da Evolução da Comunicação/Educação (Jean Cloutier)
Penso que esta temática é fulcral para o estudo da comunicação, visto que evidência os momentos primordiais, que marcam o desenvolvimento a evolução da comunicação/educação. Para conseguirmos compreender a educação actual, é necessário compreender o progresso da comunicação. Visto esta ser cumulativa, é necessária a compreensão das suas diferentes etapas, bem como das suas condicionantes.
Fases da História da Comunicação
Segundo Denis Detroit, o termo comunicação, possui um vasto número de significações. Ele afirmava que a comunicação “fala a língua de várias ciências” (Armand, 1994), tal como a física, a teologia, a literatura... Porém, a polissemia da comunicação também nos remete para as concepções, tal como a de partilha, a da continuidade etc, tal como pudemos verificar com o estudo da epistemologia da comunicação.
Para Jean Cloutier, este conceito (comunicação) é evolutivo e recompostas inúmeras vezes ao longo dos tempos, sem nunca esquecer dos elementos constituintes do modo de comunicação anterior. Ainda segundo este autor, temos quatro fases da evolução da comunicação. Estas apresentam-se sobrepostas, onde cada uma delas, é assinalada pela utilização de novas formas de comunicação que modificam a sociedade e que criam um novo tipo de comunicação. Temos então 4 fases ou episódios da Comunicação e de como as podemos envolver na Educação:
1 – Comunicação Interpessoal (linguagens e exteriorizações) / Família;
2 – Comunicação de Elite (linguagens e transposição) / Escola;
3 – Comunicação de Massas (linguagens de ampliação) / Escola Paralela;
4 – Comunicação Individual (linguagens e registo) / Auto Educação.

1 - Comunicação Interpessoal (linguagens e exteriorizações) / Família;Esta fase teve inicio com o Homo sapiens, no momento em que aprendeu a exteriorizar tas suas ideias necessidades e desejos através do seu corpo (gesto). Começou assim na iniciação do gesto, a articulação de sons e à formação de palavras. Neste contexto, o homem é o único meio de comunicação, contendo três características essenciais:
Linguagens de exteriorização: onde a visão e a audição são os sentidos primordiais, bem como o gesto e a palavra os meios para a sua exteriorização. Esta fase de comunicação, envolve o homem como emissor e receptor através de sons e gestos. Posteriormente surgiu lentamente a palavra.
O espaço: nesta altura, a comunicação está limitada ao espaço, à capacidade do homem para ouvir e ver. Para ultrapassar esta lacuna, o homem sente a necessidade de se deslocar e de ter alguém que transmita as suas mensagens. É assim que surge a figura do mensageiro, sendo este considerado “um verdadeiro médium de comunicação”.
Tempo: a duração da comunicação é muito limitada, fixando-se pelo momento em que é produzida, podendo ainda assim serem produzidas repetições dessa mesma mensagem. Porém esta estava reduzida ao período de uma vida. Para poder prolongar um pouco este tempo, surgiram os contadores, os trovadores e os bardos que assumiam a função de “memória do tempo”.
Nesta fase da comunicação, a educação dentro da família tem um peso bastante relevante, uma vez que nela existe uma relação espaço-tempo; uma mensagem instantânea e uma necessidade de ambos os interlocutores estarem presentes. Assim sendo, a comunicação assume-se como uma estrutura educativa por excelência. Esta aprendizagem no seio familiar era sempre com o objectivo de certificar a subsistência e a herança cultural dos seus educandos (saber fazer: trabalhar na terra, caçar, pesca; mitos e costumes).
Este tipo de aprendizagem ainda hoje é praticado embora já mais como um apoio à estrutura formal de educação, a escola. Porém a raiz dos valores essenciais para a boa formação do homem está sem dúvida nenhuma na família.

2 – Comunicação de Elite (linguagens e transposição) / Escola;Cloutier denomina esta fase de “linguagens de transposição”, onde o homem vai representar o seu pensamento e tudo o que o rodeia em desenhos, esquemas, música, ritmo a particularmente a escrita fonética. Surgem assim os pictogramas e a linguagem passa a dispensar o gesto. Assim sendo, o homem começa a poder comunicar à distância. A invenção da escrita levou ao aparecimento do livro que deu aqui inicio à história, nascendo assim uma nova era no campo da comunicação.
Neste episódio da comunicação, a educação já surge na escola. Coloca-se a necessidade do uso e estudo da escrita e leitura pois, só através destes, é se poderão obter certos conhecimentos. Assim, a aprendizagem transforma-se num conteúdo acessível a pouca população (aos especialistas) e com um local adequado para ser realizado (escola), colocando um pouco de parte a família.

3 – Comunicação de Massas (linguagens de ampliação) /Escola Paralela;É aqui que surge a implementação da imprensa, culminando com o satélite. Trata-se de uma comunicação onde toda a gente tem acesso às informações, existindo portanto uma forte propagação das mensagens. Aparece um novo tipo de sociedade (sociedade de massa), fruto dos “meios de amplificação”.
O domínio da escola na educação, deixa de existir devido aos meios de difusão colectiva de massa. Com o aumento dos meios de informação (livro, jornal, rádio, cinema e televisão), associa-se à escola um novo motor impulsionador de conhecimentos e de atitudes designado “escola paralela”. Esta escola originou três movimentos distintos:
Substituição – Ivan Illich defende que o homem deveria ter a oportunidade de não frequentar a escola, acedendo livremente aos conhecimentos através dos media, ou objectos educacionais, tirando daí as suas aprendizagens.
Concorrência – Louis Porcher defende que a rivalidade entre a escola e a escola paralela está inteiramente relacionada com a estagnação da primeira, face aos avanços de segunda e a dificuldade em seguir esses memos avanços.
Complementaridade – La Borderier diz-nos que a escola paralela é um termo lastimoso uma vez que desvaloriza a aprendizagem feita na escola e só valoriza os conhecimentos adquiridos fora desta e através dos media. Para este autor, a educação terá que ser consumada na escola, juntamente com os devidos processos de aprendizagem a que cada indivíduo está sujeito, fora desta (família, meio ambiente e dos media). A escola será portanto um ponto de encontro de todas as diferentes formas de aprendizagem.

4 – Comunicação Individual (linguagens e registo) / Auto Educação.É nesta quarta fase que a técnica moderna se evidência, possibilitando a todos o acesso à gravação de sons e imagens, proporcionando assim, ao homem, novas linguagens (individuais), denominadas de self-media. Cloutier caracteriza este episódio da vida do homem enquanto Emissor e Receptor, visto que este tem agora à sua disposição uma imensidade de meios de comunicação, tanto para emitir como para receber. Assim sendo, nós próprios somos ponto de partida e de chegada da nossa própria comunicação. Nós já não somos informados, pois informamo-nos a nós próprios e informamos os outros.
Devido ao múltiplo acesso de informação disponível, surge então uma auto educação, que consiste numa múltipla acessibilidade à informação e a capacidade de o ser humano se expressar em várias linguagens.
Neste âmbito, o papel do professor e do aluno também muda pois este já poderá aceder ao conhecimento por “conta própria”, criando assim uma certa autonomia do pedagogo. Por sua vez, o professor deixa de ser um mero transmissor de conhecimentos, passando a ser um orientador, um formador...
Em jeito de síntese, podemos então afirmar que “… a comunicação apresenta-se como um conceito tão vasto e complexo que está longe a ideia de o abordar em todos os aspectos da sua imensidão e riqueza polissémica. Na realidade, a comunicação é o centro polarizador de todo o conhecimento e de toda a organização…” (FREIXO, Manuel, Teorias e Modelos de Comunicação, pág. 147).


Bibliografia:
FREIXO, Manuel João Vaz, Teorias e Modelos de Comunicação, Lisboa: Instituto Piaget, 2006.

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